A adenosina é um nucleosídeo do tipo purina já produzido naturalmente pelo corpo, capaz de bloquear a condução do nó atrioventricular. Ela é usualmente utilizada na conversão das taquiarritmias supraventriculares (TSV) em um ritmo sinusal. As TSV são compostas por distúrbios do ritmo, como fibrilação atrial, flutter atrial, taquicardia sinusal, taquicardia por reentrada nodal atrioventricular e taquicardia recíproca atrioventricular. Essa droga possui uma meia vida bem curta, em torno de 10 segundos, e, por isso, é geralmente infundida em bolus e administrada por um acesso proximal.

O mecanismo de ação da adenosina no tratamento dessas arritmias compreende no bloqueio da condução do nó atrioventricular e do aumento do período refratário desse nó, consequentemente reduzindo a frequência cardíaca, sem muitos efeitos sobre o nó sinoatrial. Essa droga interage com os receptores alfa1 na superfície das células cardíacas e ativa os canais de potássio produzindo hiperpolarização dos miócitos cardíacos retornando assim o coração a um ritmo sinusal normal. Os efeitos colaterais são quase inexistentes pela meia vida curta, sendo os mais comuns são rubor facial, dispneia, precordialgia e palpitação, devendo sempre o paciente ser notificado dessa possibilidade antes da administração da droga. Assistolia e parada respiratória são eventos raros, < 1% dos casos, porém o médico assistente precisa está preparado caso ocorrer.

A dose convencional aplicada é de 6 mg em 1 a 2 segundos seguida pela administração de 20 mL de solução salina em um acesso com duas vias, por questões logísticas, já que é essencial acelerar o processo de infusão da adenosina e do soro fisiológico. No caso da persistência da taquiarritmia, esperar 1 a 2 minutos e infundir mais 12 mg de adenosina, sendo permitido repetir essa dose após 1 a 2 minutos se necessidade de uma terceira dose. Logo, a dose máxima de adenosina é de 30 mg. Se feita em acesso central, reduzir para dose inicial de 3 mg. É bom lembrar que o paciente deve estar em decúbito dorsal e precisa de monitorização multiparamétrica durante toda a infusão da droga. Essa técnica é recomendada pelo guideline da American Heart Association (AHA) no Advanced Cardiac Life Support.

Popularizou-se recentemente a infusão de 06 mg de adenosina com 18 mL de soro fisiológico a 0,9% em um mesmo momento, já que a adenosina se mostrou estável e compatível com essa solução salina. Esse método foi criado pensando nas limitações da forma convencional. O método antigo requer uma torneira de duas vias, além de exigir da equipe de enfermagem coordenação na aplicação da droga simultaneamente a infusão de solução salina. Na administração alternativa combina o medicamento e o flush em uma única seringa. Dessa forma, aumenta as taxas de conversão em ritmo sinusal, diminui a necessidade de doses repetidas, elimina a necessidade de uma torneira com duas vias e reduz o extravasamento do acesso periférico. Entretanto, poucos estudos foram realizados para validar essa técnica de administração.

Esse método foi avaliado por um estudo publicado pelo Departmento de Fármacia do Advocate Christ Medical Center, Oak Lawn, Estados Unidos. Esse estudo foi unicêntrico, prospectivo e observacional, realizado entre os anos de 2016 e 2018, sendo comparados pacientes que utilizaram a técnica de seringa única (6 mg de adenosina + 18 mL de Solução Salina) e pacientes que usaram duas ampolas separadas de adenosina com soro fisiológico 20 mL após a administração da droga. O resultado mostrou que o método seringa única é altamente eficaz com 73% de chance de conversão para o ritmo sinusal, sendo bem-sucedida com a primeira dose de adenosina, além de 100% de chance de conversão com doses repetidas. Os efeitos colaterais foram limitados com esse novo método, sem relatos de dispneia, bradicardia ou assistolia.

A conclusão do estudo foi a de que a técnica de seringa única se mostrou um método mais simples e não foi menos efetiva que a técnica convencional. A recomendação é usar a administração com seringa única nos casos que não haja uma “torneira de duas vias” no serviço ou caso o paciente possua apenas acesso por uma via única intravenosa para infusão da droga. Os dados são limitados pelo número de participantes, sendo 75 pacientes em cada grupo, a localização do acesso não foi registrada e não foi excluídos os pacientes que fizeram outras drogas para controle da arritmia. Por isso, é necessário estudos adicionais para validação do método, porém é uma ideia promissora para o futuro no tratamento dessas arritmias.

Take Home Points
  • Adenosina é um nucleosídeo do tipo purina já produzido naturalmente pelo corpo.
  • Utilizada na conversão das taquiarritmias supraventriculares (TSV) em um ritmo sinusal.
  • Possui uma meia vida bem curta, em torno de 10 segundos, e, por isso, é geralmente infundida em bolus e administrada por um acesso proximal.
  • Dose convencional aplicada é de 6 mg em 1 a 2 segundos seguida pela administração de 20 mL de solução salina em um acesso com duas vias.
  • No caso da persistência da taquiarritmia, esperar 1 a 2 minutos e infundir mais 12 mg de adenosina, sendo permitido repetir essa dose após 1 a 2 minutos se necessário.
  • Popularizou-se recentemente a infusão de 06 mg de adenosina com 18 mL de soro fisiológico a 0,9% em um mesmo momento, já que a adenosina se mostrou estável e compatível com essa solução salina.
  • O método de seringa única aumenta as taxas de conversão em ritmo sinusal, diminui a necessidade de doses repetidas, elimina a necessidade de uma torneira com duas vias e reduz o extravasamento do acesso periférico.
  • Poucos estudos foram realizados para validar essa técnica de administração.
  • Conclusão: A técnica de seringa única se mostrou um método mais simples e não foi menos efetiva que a técnica convencional.
  • Recomendado usar a administração com seringa única nos casos que não haja uma “torneira de duas vias” no serviço ou caso o paciente possua apenas acesso por uma via única intravenosa para infusão da droga.
  • Ainda é necessário estudos adicionais para validação do método, porém é uma ideia promissora para o futuro no tratamento dessas arritmias.

Referências:

  •  KATZUNG, Bertram G.; TREVOR, Anthony J. (Orgs.). Farmacologia básica e clínica. 13 ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2017. 1202p.
  • McDowell, Marc; Supervising Editor: Brian C. Hiestand, MD. Single-syringe Administration of Diluted Adenosine; Society for Academic Emergency Medicine. Received August 21, 2019; revision received October 23, 2019; accepted October 26, 2019. Academic Emergency Medicine, 2020; 27:61–63.
  • Bradley P Knight, MD; Narrow QRS complex tachycardias: Clinical manifestations, diagnosis, and evaluation. In Ary L Goldberger e James Hoekstra, MD (Ed.), UpToDate. All topics are updated as new evidence becomes available and our peer review process is complete. Literature review current through: Jan 2022. | This topic last updated: Feb 15, 2022.

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